segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

“O Brasil tem condições de zerar o desmatamento em 15 anos”




Carlos Nobre, cientista climático e secretário de Políticas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, MCTI, acredita que há uma leitura muito severa sobre o papel do Brasil no âmbito do meio ambiente. Doutor em meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Nobre tem pesquisas feitas, desde os anos 1980, os impactos do clima sobre o desmatamento da Amazônia e seus ecossistemas. Para ele, o Brasil já vem trabalhando pela redução das emissões de gás carbônico (CO2), até mais do que outros países e tem plenas condições de casar preservação e desenvolvimento da agricultura.

Seu irmão, Antonio Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, se notabilizou este ano por um estudo mostrando o impacto do desmatamento para a seca de São Paulo, por exemplo. Para este problema, Carlos Nobre acredita que só é possível avançar com a redução do consumo de água.
Pergunta: Qual é o balanço que o senhor faz da COP20? O que o senhor acha sobre inserir os países emergentes no mesmo bloco que os países ricos no acordo para a redução de CO2?
Resposta: Se a gente considerar a COP15 (Copenhagen, 2009), que foi um grande fracasso, e depois a tentativa de reerguer as negociações nas conferências seguintes, a COP20 foi a melhor até agora. O que derrubou Copenhagen foi a falta de acordo, e isso frustrou todos os participantes, porque os Estados Unidos e a China estavam cada um falando uma língua diferente. A COP20 apresentou esse pré-acordo [de redução de CO2], que ainda precisa se materializar, mas pelo menos ele aconteceu. Se não houvesse esse acordo, hoje estaríamos bem mais frustrados. Sobre incluir os emergentes no mesmo bloco que os países desenvolvidos, não é bem assim. No documento, há uma frase que diz “respeitando as peculiaridades de cada país”. E essa última frase muda todo o espírito. Quando o tempo passa, as coisas mudam. Em 1992, por exemplo, a Coreia do Sul ainda era um país considerado em desenvolvimento. Em 2014, já é um país desenvolvido. Você tem que ter um mecanismo para que os países que vão avançando, assumindo condições tecnológicas e financeiras, possam desempenhar um papel importante.


P. Como será 2015 para o Brasil? Quais serão os principais desafios ambientais?
R. São três grandes desafios: acelerar a introdução de energias renováveis na matriz energética, reduzir o desmatamento e melhorar a produtividade da agricultura. O Brasil deve continuar sendo o protagonista e tem de continuar nessa trajetória de redução das emissões [de CO2]. Nos últimos anos, o único país grande em desenvolvimento que diminuiu [a emissão de gases de efeito estufa] foi o Brasil. Tem condições de, em dez,15 anos, zerar o desmatamento. Porque é possível aumentar a produção agrícola sem ter que expandir a fronteira agrícola. O Brasil tem a faca e o queijo na mão para zerar o desmatamento. Para isso, é preciso investir na agricultura e a pressão de expansão da fronteira agrícola em cima das florestas, do cerrado e da caatinga tem que zerar. E é preciso que os mecanismos de incentivos foquem na recuperação de áreas degradadas no sentido de plantar floresta. Isso não é nada fora do que é exequível para o Brasil.
O terceiro é a energia, que tem uma correlação muito grande com o crescimento  econômico e demográfico. A única maneira de mudar essa curva é alterando a matriz enérgica. É preciso que haja investimento do setor, incentivos de iniciativa pública com energias renováveis. O Brasil tem o maior potencial de energia renováveis do mundo por quilômetro quadrado. Nem os Estados Unidos e nem a China têm esse potencial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário